segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Para mim, a pior das dores. A perda de um pedaço de nós: um filho.



Para mim, a pior das dores.

Hoje escrevo-vos sobre um tema que estava longe de imaginar que o iria fazer.
Quem disse que mandamos?! Quem disse que a vida está sob o nosso controle e os dias se sucedem como se pudéssemos programar ou antever alguma coisa?! Como se de uma série se tratasse. Desenganem-se.
Falo-vos da pior das dores que pode haver. Para mim. Da dor que felizmente nunca senti mas que paradoxalmente já vivi por partilhar nas sessões tantas lágrimas, tantos vazios, tantas revoltas, tantas mágoas. É um processo. Seja.
Mas, para mim, o pior.
A dor de perder um filho.
[…]
Deitei-me. Estava pronta para adormecer. Tinha sido um bom serão. Estava bem-disposta. As últimas gargalhadas da noite, partilhadas com Eles (marido e filho) tinham-me feito bem. Estava relaxada e tranquila a escrever o próximo post que supostamente hoje iria partilhar. Estava feliz. Genuinamente feliz.
Imaginei e programei um post colorido, cheio de boas energias, com frases inspiradoras e muito muito boa onda. Tarefa terminada e tudo pronto fui dormir. A posição não era das melhores porque como devem calcular quase 37 semanas de gestação, são 37 semanas de muito amor mas de uma enorme barrigota. Adormeci.
Mas as moedas têm sempre dois lados. Duas faces.
A vida infelizmente não é sempre pincelada por cores coloridas… vivas…sempre rosa… tem também o cinza e o preto. Há o bom e o mau.
A claridade e as trevas.
Às vezes (e ainda bem!) esquecemo-nos.
A meio da noite, sem saber ao certo que horas eram, o meu bebócas dava sinal, estaria como fome. Nada melhor do que um assalto ao frigorífico para o sossegar a ele e saciar a mim e, assim, voltaríamos os dois, na companhia um do outro, a adormecer. Imaginava eu.
Desci as escadas e depois de umas boas bolachas com chocolate (nada melhor para repor as energias) e ainda o “bébucho” aqui às voltas, mas agradecido (imagino eu) peguei no telemóvel que se encontrava pousado na lareira para ter uma ideia das horas.
Quatro da manhã. O terror.
Não podia ser. Deviam-se ter enganado na mensagem. Alguma coisa não estava bem com certeza.
Como?! Quando?! Porquê?!
Subi as escadas.
Já não dormi. Imaginei todos os cenários e várias hipóteses e decidi que de manhã assim que me levantasse tentaria ver com clareza o que tinha acontecido.
Devia, podia, ter havido algum engano.
Depois de uma troca de telefonemas entre amigas e colegas, a suspeita que na noite anterior se levantava, confirmava-se. Era verdade.
A mãe que tão bem conhecíamos (ou por já o termos terapeuticamente avaliado ou porque era natural nas sessões de acompanhamento do D. perguntar por ele) tinha perdido o seu filho. O seu L.
O L.
S.-pedia-nos ajuda.
Ajuda para o outro pequenote que ficava e que nós, terapeutas há tantos anos tão bem conhecíamos. Afinal era verdade.
Falei com a mãe. Um pesadelo. (o sentimento natural de desrealização: “ não parece ser comigo, parece um filme de terror ao qual estou a assistir de fora”).
Com o distanciamento técnico possível nesta altura, mas também como mãe, as lágrimas vieram-me aos olhos, não paravam de correr. Conversamos e combinamos algumas coisas, dentro do possível e nesta fase a fazer. Percebi como acontecera.
O pequeno L. depois de uma anterior visita ao hospital em que não tinham conseguido detetar o que estava a acontecer tinha morrido ao seu colo (o colo!) numa segunda viagem a correr para o hospital da zona onde estavam. Estavam de férias. O mundo parou. O D., irmão mais velho ao acompanhar tudo isto estava a comportar-se como se de um verdadeiro fortalhaço se tratasse, e, da sua inocência e ingenuidade, tentava consolar a mãe “vai correr tudo bem mãe, vais ver”). Mas infelizmente não correu.
Regressaram os três. O L. viria mais tarde.
Foi hoje o seu funeral.
[…]
A esta família que agora se encontra a passar por esta avassaladora dor um abraço apertadinho,
A certeza de que não estarão sós.
Tenhamos esperança.
[…]
A Nós, a Vocês que ficamos,
À vida que lá fora continua…
Fica a reflexão,
...,
Neste corre-corre de todos os dias,
Nesta lufa-lufa que é o nosso quotidiano, vale a pena construirmos a certeza de que somos efémeros e que, efetivamente, nada melhor há que aproveitar os momentos.
Os pequenos e os grandes. TODOS.
Sem exceção.
Um almoço, as brincadeiras no jardim, o levar o lixo de mão dada, as caminhadas, o andar de bicicleta, o ver um filme, um braço, os sorrisos, o que seja…
Aproveitar plena e genuinamente os nossos,
os que nos enchem o coração.
[…]
Desculpem, não queria tornar o vosso sábado cinzento mas este dia foi assim.
Todos nós podemos ou já tivemos dias assim.Parece fazer parte deste caminho que é a vida.
A perda. A ausência.
Um beijo S. Um enorme beijo D.
Um abraço avó que tão bem conheço. Os meus pêsames pai, família, conhecidos.

Até breve*
Ver: Comportamentos e reações do processo de luto “normal”.
http://apav.pt/carontejoom/index.php/zoo/joomla/comportamentos-e-reaccoes-do-processo-de-luto-normal

Sem comentários :

Enviar um comentário