quinta-feira, 4 de maio de 2017

UMA QUESTÃO DE AMOR. OU DESAMOR. #TESTEMUNHO 1


Lancei o desafio a uma das minhas pacientes para escrever sobre si e o amor. A dor de quem se reergue depois do sonho da família ter, no momento, adquirido outro sentido e outro significado.
Foi este o resultado. Obrigada C. pela partilha.
Muito grata.
Que nos ajude a redefinir o nosso valor pessoal e a olhar para a vida de uma outra perspetiva.

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"Quem sou?!
Quando me desafiaram para partilhar “quem sou” senti-me incapaz.

A primeira resposta é: não sei! Não me lembro de quem sou. Perdi-me há muito tempo. Vejo nas fotografias antigas uma criança sorridente, uma adolescente sorridente, uma adulta sorridente, mas parecem retratos de outro alguém. Sei que sou eu, porque me dizem que sou eu. Mas eu não sei que sou eu.

Não sei quem sou.

Perdi-me nos dias iguais, e nas vontades dos outros. O passado parece uma névoa e o presente parece um trapo velho, sujo e enrugado sem um único pedaço limpo. O futuro… o futuro esse é um buraco negro tenebroso que teima em puxar-me para lá.

Os dias são passados entre a obrigação de levantar, tratar dos filhos, trabalhar, voltar para casa, tratar dos filhos, dormir, levantar, tratar dos filhos, trabalhar, voltar para casa….

Houve um tempo em que o futuro pareceu luminoso. Um tempo em que o presente era um PRESENTE. Um diamante brilhante. Desse presente nasceu uma princesa. O presente mais inesperado, mais desejado. Também há uma fotografia desse dia. Também mal me reconheço nessa fotografia. Também me perdi dessa pessoa. A luz foi-se. Extinguiu-se com um “não quero mais". "Não gosto de ti". "Vou-me embora”. Escrevo isto e também não me reconheço. 

EU não entrego o meu ser assim nas mãos de ninguém! Eu não dou esse poder a ninguém! Mas dei… e ele foi. E eu fiquei…. Inerte, seca e vazia de mim…. Filhos, trabalho, casa, filhos, casa, trabalho…. 

Eu não sei quem sou.
Não sei onde estou.
Ainda estou nos braços dele. Nos beijos dele. No amor dele.

Às vezes sou personagem de uma película do cinema mudo. Personagem a quem mudaram o cenário e grita: EU NÃO SOU DAQUI.

Não é este o meu cenário. O meu cenário é brilhante. No meu cenário os filhos, o trabalho, a casa são mais leves. No meu cenário há tempo para o amor. O meu cenário é a cores. Não este triste cinzento. 

No meu cenário o meu amor fica…

Perdi o meu amor e perdi-me de mim. 
Não sei se antes me perdi ou se antes o perdi."


20.3.2017"


a vossa psicóloga!
Encontram-me no 5 Sentidos |aqui| e no Centro Clínico de Aveiro
                                                         euelesnosevoces@gmail.com!!

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